Suco de abacaxi delivery

A verdade é que me faltou informação. Sei lá eu porque, mas faltou informação.
A gravidez, apesar de super planejada, não deixou de ser uma grande surpresa quando aconteceu. Claro, passado o susto inicial, vem os fantasmas, os medos... medo de perder o bebê, medo de que tipo de parto escolher, medo de não ter dinheiro para comprar todas as coisinhas e coisonas que envolvem o investimento de ter um bebê, que vai virar uma criança, que vai virar um adolescente, e sempre gastar mais e mais.
Dá mais receio do que medo, na verdade. Aquela pergunta que não quer calar: Será que sou capaz? Aos poucos, estes receios e medos foram desaparecendo. Mês a mês a idéia de ter um filho já ficava mais elaborada, e alegria crescia a cada dia.
Nas lojas de artigos para bebês, mil idéias, mil vontades, mil reais!
Os diferentes trimestres!
A gravidez hoje em dia é contada em semanas e não em meses. Digo hoje em dia porque quando eu era mais nova via as mulheres dizerem de quantos meses estavam, e meu médico me ensinou a contar de quantas semanas é a minha idade gestacional. Bom, fácil entender, só que exige sempre que duas contas sejam feitas: quantas semanas e quantos meses isso equivale, porque as pessoas não grávidas não entendem o que quer dizer 20 semanas ou 39 semanas de gestação. Sempre vem a pergunta: isso em meses, quanto dá?
Ok, os diferentes trimestres: a gravidez é contada em três trimestres. E cada um deles tem suas características. Claro, que isso vai variar de mulher para mulher.
Eu, no primeiro trimestre, tive pouquíssimos enjôos, vomitei poucas vezes, quase não me sentia mal. Mas meu médico, por precaução, e pediu para parar com as aulas de natação, hidroginástica e dança do ventre, ao menos durante este período. E me passou uma dieta a base de frutas, legumes e carne branca.
Eu no início quase não tinha fome mesmo, e passei a Páscoa sem vontade de nenhum chocolate.
Como eu sentia fortes cólicas neste período, o médico me passou uns remédios que evitariam o aborto. Isso me deixou assustada e eu evitava andar muito, correr, pegar peso e passar muito tempo em pé. Eu me sentia fisicamente disposta, mas tinha tanto medo de abortar, que acabava quase não me movendo.
No segundo trimestre, as cólicas desapareceram e a fome apareceu. Como meu médico havia me dito para comer bastante frutas, eu abusei das bananas, minha fruta favorita. Comia ao menos três vezes por dia banana com iogurte e sucrilhos. Às vezes comia banana com aveia e mel também. Um dia delirei com uma banana caramelada com leite condensado e sorvete de creme. Ganhei 5 kilos em um mês. E bronca do médico também.
Passei o segundo trimestre com este medo de engordar, apesar da fome e da ansiedade que me pediam mais e mais bananas. Bom, ao menos cortei o sucrilhos do cardápio e passei a comer apenas banana no café da manhã com iogurte com mel. Só no café da manhã. Uma banana por dia.
No segundo trimestre comecei a sentir fortes dores nos quadris. Li que era normal, pois os ossos da bacia estão ‘abrindo’ para dar passagem para o bebê. Muitas outras grávidas com quem eu conversei não tinham essas dores, mas eu chegava a mancar e ficar de cama. Frequentei massagistas e comprei pomadas analgésicas que podem ser usadas em grávidas, mas pouco adiantava.
Como era inverno, as dores pioravam ainda mais com a musculatura contraída.
O terceiro trimestre finalmente chegou. A ansiedade aumentou. Todos diziam que este seria o período mais longo e demorado. Pode ser, mas na minha opinião todos os trimestres foram longos e demorados.
O calor veio chegando e meus pés começaram a inchar. Não só os pés, mas as mãos, as pernas e o rosto também. Parei de usar aliança e anéis e as pulseiras confortáveis eram aquelas bem largas. Sapatos somente sapatilhas, baixas e macias, um número maior do que o usual. As minhas calcinhas mais confortáveis ficaram pequenas e apertavam minha barriga. Descobri que não se fabrica meia-calça para grávidas, e tive que cortar o elástico das minhas, e mesmo assim não eram tão confortáveis.
Disseram-me para usar meia de compressão para ajudar no inchaço das pernas e evitar varizes. Meias de compressão são caríssimas. E roupas específicas para grávidas também.
Dei sorte de ganhar muita coisa. Quase não gastei dinheiro em roupinhas de bebê, lembrancinhas e até mesmo nos móveis para o novo quartinho da casa.
A vantagem de se ter o primeiro neto da família é essa. Todos fazem questão de ajudar.
Fiz dois chás de fraldas: um foi em casa, para a família e alguns amigos mais próximos. As tias, avós e bisavós trouxeram comes e bebes, e muitas fraldinhas. Fizeram um lindo bolo com uma esculturinha em cima, com o nome da neném. Tudo muito carinhoso. E muito cansativo também. Passei a festa toda de lá para cá, cumprimentando, fazendo sala, mostrando o quarto da neném, servindo bebidas, cortando o bolo, tirando fotografia. No final do dia meus pés estavam imensos e cansados. Eu estava com a cara redondíssima e exausta. Precisava botar as pernas para cima e não falar com mais ninguém.
Com essa importante experiência, marquei um chá de fraldas para meus amigos em uma pizzaria. Reservei um mesanino super charmoso, cedi alguns quitutes e os amigos apareceram. Claro que foi menos cansativo, mas certamente fiquei andando para lá e para cá, para fazer sala a todos meus queridos convidados. Cansativo também, mas muito divertido. E rendeu boas fraldas também. Bendito seja quem inventou essa coisa de chá de fraldas!
Tirei a licença maternidade três semanas antes da data prevista para o parto. Estou cada dia mais inchada. Meu médico me passou uma dieta mais rígida a base de legumes, frutas, carnes brancas e me proibiu de comer qualquer tipo de açúcar, seja em doces, sucos ou em massas. Foi legal, porque fazer uma dieta saudável me deu uma sensação de auto-preservação e de cuidados especiais com a minha neném.
Estou na maior ansiedade do mundo. As vezes choro de dor nas costas, nos quadris e nos pés, com a certeza de que não agüento mais, que cheguei no meu limite. O calor vem aumentando e dormir tem sido cada vez mais difícil, para não dizer impossível. Como durmo mal à noite, passo o dia todo com sono, bocejando e cochilando em qualquer lugar.
Daí voltei a sentir medos e receios. A hora do parto se aproxima e reserva algumas surpresas. O medo de não conseguir ser uma boa mãe, a sensação de culpa por reclamar tanto dos desconfortos da gravidez, o receio da família interferir demais no início, a falta de privacidade, a hora de dar de mamar na frente dos outros, meio seio exposto na rua. Será que eu vou ter leite o suficiente? Será que vou perder os kilos a mais que ganhei? Será que meio seio vai voltar a ser como era? Será Será Será?
Daí eu olho as roupinhas pequeninas, lavadinhas, cheirosas e cor-de-rosa. Me dá lágrimas nos olhos, e uma vontade tão grande de ver o rostinho da minha pequena, de acalma-la nos braços, de alimenta-la, de sentir o tão falado amor de mãe.
E me acalmo. Respiro fundo e me agradeço por ter me dado esta escolha. Ser mãe.
E até me dou o direito de ter desejos!
Há meses tenho enlouquecido de vontade de tomar suco de abacaxi. Compro abacaxi e devoro a fruta em pouco tempo. Delicioso.
E durante a madrugada? Durante a madrugada senti falta de um disk-grávida!! Um delivery de desejos excêntricos. Um mimo para estas pobre coitadas que passam por tamanhos desconfortos, e permanecem caladas, para não chocar aqueles que olham e acham a gravidez um estado de graça!
Pois eu resolvi reclamar! Gravidez dá trabalho mesmo. Dói. Dá vontade de chorar. Cansa. Limita. Dá medo. E dá vontade!! Mas isso não quer dizer que não valha a pena... certamente vale. É lindo sim. Maravilhoso. É doação completa e absoluta. É amor mais puro.
Mas, por favor, um disk-grávida pra ajudar a gente, vai!!! Eu quero um suco de abacaxi já! E com bastante gelo... hummmmm....


Ariadne Catanzaro, grávida de 09 meses. Mãe da Elis.