Livre_expressao

quinta-feira, novembro 02, 2006

Pão, alface, salame e orégano

Sentei na calçada para comer meu sanduíche.Pão, alface, salame e orégano. Ela sabia como preparar meu sanduíche. Mãezinha. Já velhinha velhinha... E o melhor sanduíche da face da terra.
Não tinha dado tempo de eu efetuar a primeira abocanhada quando ele sentou do meu lado.
Ficou olhando. Eu estava de boca cheia. Um pedaço de alface tinha ficado para fora. Engoli rápido na tentativa de acabar com a cena cretina.
- Que tá olhando?
- Tá bom o sanduíche?
- Tá, por que?
- Dá um pedaço?
Porra, meu almoço, lá se vai...
- Tó.
Ele mordeu. E que mordida. Mastigou calmamente. Me devolveu o sanduíche.
- Credo, tem orégano?
Fuzilei com o olhar. Dei outra mordida.
- Cê não bebe nada enquanto come?
- Não, por que?
- Por nada.
Não falamos mais nada até acabar o sanduíche. Me levantei. Tirei um cigarro amassado da pochete. Risquei um fósforo, soltei a fumaça e o vento se encarregou de carregar a fumaça para a cara dele.
- Dá um cigarro?
- Só tenho mais um.
- Não tem importância.
E riu.Eu não respondi. Passei meu cigarro para ele dar uma tragada.
Enquanto ele fumava lembrei da gente no último sábado. Envoltos em braços, abraços, saliva, pêlos, cabelos e suor. Pisquei pra acordar. Ele me devolveu o cigarro.
Fumei até o filtro. Ficamos em silêncio. Alguém gritou meu nome. Me despedi com um beijo no rosto dele.
- Hora de trabalhar.
- Cê não vai nem tomar um café?
- Não tomo mais café.
- Desde quando?
- Desde sábado.
- Ah tá.
Saí andando no meio da construção.
Não olhei pra trás, mas sei que ele ficou me olhando.
Ariadne Catanzaro