Livre_expressao

terça-feira, maio 08, 2007

Caricato, desastroso e vazio


Nina, o primeiro longa do diretor Heitor Dhalia, tenta ser uma adaptação de Crime e Castigo, de Dostoievski. Porém, o resultado é um filme fraco, cheio de elementos inúteis e um grande elenco desperdiçado.

A protagonista Nina, interpretada por Guta Stresser é uma personagem mal construída, antipática, com atitudes pré-adolescentes. Talvez o intuito do diretor era colocar Nina como vítima das dificuldades da vida na cidade grande. Uma jovem que mora distante da família e aluga um quarto na casa da velha Eulália; porém, a jovem não tem maturidade para manter um emprego de garçonete em uma lanchonete. Pára de trabalhar, não procura outro emprego, sofre por não ter dinheiro para nada e se sente injustiçada pela velha Eulália (Myriam Muniz), que a proíbe de comer sua comida, usar seu sabonete ou coisas do tipo enquanto não pagar o aluguel! Cá entre nós, mais que justo!

De qualquer forma, a vilã Dona Eulália também é uma personagem mal construída, caricata, quase tão real quanto as bruxas madrastas de contos de fada! Crueldade inverossímil, não convence o espectador e não ajuda a causar pena de Nina.

Marçal Aquino (autor de excelentes roteiros como Os Matadores e O Invasor) é co-roteirista, junto do diretor Heitor Dhalia. Porém, neste trabalho, o roteiro deixou a desejar. A história não se desenvolve, nada acontece, Nina não se mexe para a vida ser melhor, e o diretor insiste em nos forçar a ter pena dela, pobre coitada! O maior conflito da trama parece ser a relação entre Nina e Eulália, do ódio que uma sente da outra e a situação de “quem pode sacanear mais” que se cria entre as duas.

Guta Stresser, Myriam Muniz, Milhem Cortaz, Wagner Moura, Selton Mello, Renata Sorrah, Lázaro Ramos, Matheus Naschtergaele, Ailton Graça entre outros, compõem o ma-ra-vi-lho-so elenco que Dhalia criou. Alguns com pequenas participações, mas de qualquer forma, sempre muito bem em seus papéis. O que acaba dando mais raiva ainda pelo filme não ser bom. Inevitável pensar “O que estes atores estão fazendo aí???”.

Mas como nada pode ser tão maniqueísta quanto a velha Dona Eulália, o filme não tem apenas pontos negativos. Ponto pro elenco citado acima, para a estética criada pelos diretores de arte Akira Goto e Guta Carvalho, incluindo o figurino e a maquiagem. O filme é todo caricato, porém a arte representa muito bem esta caricatura. Personagens que não existem que vivem em lugares que não existem. Os cenários se encaixam perfeitamente no clima que Dhalia optou por criar. Materiais utilizados no cenário foram adquiridos em demolições, para transmitir uma sensação decadente.

A fotografia também é muito boa, especificamente na cena de sexo com o cego, onde contrastes de luz e sombra enriquecem a cena, ao som de muito bem escolhida trilha sonora.

Mas o que peca mesmo é o roteiro. Dhalia quis colocar elementos de Crime e Castigo no filme, porém estes ficam perdidos e não fazem diferença alguma no roteiro, como o assassinato do cavalo num sonho ou numa alucinação de Nina. Outro fator que não faz a mínima diferença é o fato dela ser desenhista. Ela poderia ser qualquer outra coisa, que não mudaria em nada. Continuaria sendo uma personagem preguiçosa e deprimida pela vida difícil em São Paulo.

Se Dhalia queria mesmo falar do drama de quem vem morar em São Paulo, deveria ter feito um filme sobre um nordestino que chega com oito filhos, depois de dias de viagem num pau-de-arara, enfrenta preconceito e discriminação, demora a conseguir um emprego com o tão famoso “salário de fome” e nunca mais consegue juntar dinheiro para voltar para sua terra. Isso sim seria um drama danado, verossímil e real.

Já Nina não. É inverossímil de qualquer forma. Seus amigos, suas baladas, suas pirações, e seu desfecho. Tudo ruim. Um filme que dá raiva da protagonista e nojo do vilão.
Desliguei a TV com a sensação de tempo perdido. Uma pena.



Ariadne Catanzaro

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Puxa! Não esperava mesmo que alguém achasse esse filme assim ruim. Pra mim, realmente não pareceu inverossímil.
Não acho que o foco seja a dificuldade em si das pessoas que vão a São Paulo, mas o que aconteceu com uma em particular.

5:25 PM  
Blogger Livre expressão said...

Oi anonimo! Obrigada pela colaboracao! Mesmo levando em conta sua observacao, acho ainda que o filme eh fraco ao tratar de uma pessoa em particular, pois a personagem nao tem carisma algum.
Mas de qualquer forma, cinema eh isso! Cada um que assiste assimila de maneira diferente, e eh por isso que amo tanto a setima arte. Assistir um filme eh uma experiencia subjetiva e individual.
Obrigada por sua opiniao!
Um abraco!

5:25 PM  

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