Livre_expressao

segunda-feira, março 26, 2007

A não-história da não-heroína


Maria Antonieta é um filme intrigante.
Não é lento demais, nem tampouco ágil. Seus personagens não são heróis ou bandidos.
A rainha não é totalmente carismática ou amável. Humana apenas. Por isso gostamos dela.
Sofia Coppola nos dá a oportunidade de identificação com tão polêmica rainha francesa.
Maria Antonieta é uma menina de quatorze anos, filha do imperador austríaco Francisco I, que parte para França para se casar com o herdeiro do trono francês Luís XVI. Separa-se de sua corte e se une à corte francesa. Tão fútil e superficial a corte que Sofia Coppola nos apresenta. A solidão de Maria Antonieta pode ser transmitida através da tela do cinema. De repente todos na sala desaparecem, e o espectador está só num universo vazio, estranho, um não-lugar. Claramente Maria Antonieta sente-se assim.
Não há ninguém com quem possa identificar-se.
Apenas dezenas de mulheres da família real que abrem suas cortinas e sua privacidade, todas as manhãs. Não-lugares. Não-pessoas.
Compreendemos o drama de Maria Antonieta.
Toda a cobrança externa por um herdeiro. A corte, o povo, seus conselheiros, sua mãe. A pressão sobre dar ao reino francês um herdeiro. E um marido que não demonstra nenhum tipo de afeto ou de emoção. Não-sexo.
Maria Antonieta, sozinha, completa-se com doces e sapatos e vestidos e flores. Amadurece a futilidade da corte francesa. Finge não se importar e esbanja a fortuna.
Ainda nem dezoito anos. O rei morre, Luís XVI e Maria Antonieta, ainda “tão jovens para reinar”, assumem o trono francês.
Sofia Coppola se prende aos dramas pessoais de Maria Antonieta. O filme é rico em imagens e interpretação. A rainha jamais verbaliza suas aflições, porém ainda somos cúmplices e parceiros de sua solidão. Não precisamos de palavras. O filme fala por si e diz a que veio.
Mal toca-se nos problemas políticos da França. Ficamos distantes disso, como Maria Antonieta, no filme parece estar. Sabemos de suas amizades, de seus amores, de suas dores e de seus segredos. Mas não sabemos o que está acontecendo então na França.
No final do filme, o povo revoltado, nos chama a atenção, a gritos, pedras e tochas. Ainda não sabemos ao certo o que está acontecendo.
Lembramos que a rainha esbanjara o dinheiro do povo. E é por isso que o povo grita?
Sofia Coppola não nos revela. Se quisermos melhor entender, teremos que nos refugiarmos a um bom livro de história. Não pelo filme. Este fala de uma adolescente com crises que podemos enfrentar qualquer dia desses.
A diretora opta por brincadeiras atemporais. Confunde os séculos, nos objetos de figurino, nos gestos e nos fogos de artifício. Usa música punk para embalar o século XVII. Nossa rainha cita Russeau deitada na grama, com flores na cabeça, numa cena quase “hipponga”.
O filme é bonito. Humaniza a rainha. Nos aproxima dela. Mesmo ela não sendo assim um exemplo de simpatia, coragem, maturidade ou bondade. Porém, como disse anteriormente, nos identificamos com ela. Afinal, simpáticos, corajosos, maduros e de bom coração são mesmo os heróis americanos. Além de loiros, lindos e de olhos azuis. Que sem graça seria a rainha se fosse uma heroína.
Ariadne Catanzaro

2 Comments:

Blogger lipão/fê said...

boa critica! uma cena legal de lembrar é o casamento, com fogos de artificio. tipo casamentos de las vegas. e o tratamnento e a vida da rainha parece com um icone pop atual

bjo

4:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

filme tão comentantado ultimamente, esse aí... mas ainda não juntei coragem pra ver. estou providenciando o download de uns legais, "O céu de Suely" e "O dia em que meus pais saíram de férias", ambos brasileiros. não se tu já assistiu, mas parece que são bons.

Abraço.

5:42 AM  

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