Livre_expressao

domingo, julho 01, 2007

Bad Hair Day

Acordei cedo morrendo de sono.
Levantei com ódio do mundo e fui me arrumar para mais uma segunda feira de trabalho.
Vida indigna.
Eu estava sonhando com a Europa. Sonhava com a Itália, com o Coliseu e a Torre de Piza, e meu despertador me faz questão de lembrar que não são férias, ainda tenho muito trabalho pela frente. O céu ainda estava escuro e o frio me estarrecia.
Levantei assim, nesse bom humor que você pode imaginar.
Depois de um banho ingrato (de manhã nunca dá para tomar banhos longos e relaxantes), vesti a roupa que havia separado no dia anterior e fui para a cozinha tomar um café qualquer.
Obviamente estava o maior trânsito. Nada é tão ruim que não possa piorar, certo?
Eu tinha uma reunião importantíssima. Tudo que eu não podia era me atrasar.
Mas me atrasei.
Cheguei quinze minutos depois e todos já me olhavam com cara de segunda feira.
A reunião nem foi tão produtiva quanto eu precisava que fosse.
Dobrei minhas idéias e as coloquei de volta na pasta.
Antes de me dirigir à minha mesa, fui ao café, esfriar a cabeça e esquentar a garganta.
Minhas mãos estavam geladas e minha boca era incapaz de sorrir aos “bom dias” do caminho.
Sentei sozinha com meu café, acendi um cigarro. Dei um pequeno gole e uma boa tragada. Soltei a fumaça para cima, com os olhos fechados e ouvi a frase inconveniente:
- Posso me sentar ao teu lado?
Quem seria o idiota a me interromper no meu primeiro momento de prazer?
Abri os olhos e só pude perceber sua barba e o cabelo molhado.
- Claro. Fique à vontade.
- Me disseram que a reunião não foi muito produtiva.
Sentou ao meu lado com um delicioso perfume pós banho.
- Todos temos dias ruim.
- Certamente que sim. Bonitas as suas botas.
Uau! Um homem capaz de reparar em suas botas novas, com cheiro de perfume pós banho, só podia ser um enunciado de que a vida poderia ser boa em algum momento.
- Obrigada. - sorri pela primeira vez no dia.
- CARLOTAAAAA! – alguém me arranca o bom humor a me gritar pelo corredor. – Seu celular está tocando!
A estagiária vinha correndo com meu celular a acender luzinhas e apitando uma musiquinha irritante. Não queria mais ter celular.
Atendi sem ver quem era.
- Mãe?
- Oi Gilberto. Tudo bem?
- Mais ou menos. Tem um minuto?
Quando filho pede um minuto pode ter certeza de que vai demorar mais.
- Claro.
Descorreu um interminável discurso sobre minha nora anunciando mais uma separação.
O homem cheiroso ao meu lado se levantou e fez um sinal de tchau.
Sorri esquecendo de escutar meu filho no outro lado da linha.
- Sei filho, sei.
Depois de dezessete minutos de queixa, desliguei com o ouvido quente.
Voltei ao trabalho a pensar que a vida podia ser boa sim. Dei bom dia com sorrisos, exibindo minhas novas botas.

Ariadne Catanzaro

3 Comments:

Blogger Sue said...

Puxa Ariadne! Vc escreve muito bem. Quando que sai esse livro aí? E essa história aí como termina? hmmmm...
Gostei muito de seu estilo.

boa semana
Sue

6:31 AM  
Blogger Sue said...

Ah, esqueci de comentar, acho que vc está mei Chaplin mesmo heheh
Beijocas

6:32 AM  
Anonymous Anônimo said...

te adicionei à lista, Ariadne. veja só, pq vc não coloca seus contos no www.literar.org? coloquei alguns lá, é um site interessante, divulga bem os textos. abração.

6:39 AM  

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