Livre_expressao

segunda-feira, julho 09, 2007

Massagista

Estava andando pelo centro da cidade no meu horário de almoço.
Já tinha matado a fome com um snack qualquer no McDonald’s e aproveitava meu tempo livre para dar uma olhada nas promoções das grandes lojas de sapato, aquelas com música alta e cheia de papeizinhos no chão (para dar uma idéia de ‘lugar animado’, mas que eu acho uma péssima idéia de lugar bagunçado).
Enfim, entre uma loja de sapatos e outra de artigos de informática, avistei um salão de beleza. Olhei para as minhas unhas e quis escondê-las imediatamente. Sim, eu precisava mais de uma manicure do que de um par de sapatos.
Entrei no salão. Estava vazio. Tinha duas mulheres de preto sentadas sem fazer nada, um cabeludo com trejeitos femininos e, lá no fundo do salão, um homem de longo bigode vestindo roupas brancas. Os homens sorriram para mim, as mulheres não.
- Queria fazer a unha.
Uma das mulheres olhou para as outras.
- De quem é a vez?
- Es mia. – Uma mulher com cara de peruana levantou e veio me atender.
Com sotaque latino me mostrou onde eu teria que me acomodar enquanto ela pegava o carrinho com os esmaltes.
O homem de bigode veio na minha direção e perguntou se eu aceitava uma xícara de café.
Incrível. Ele não era alto, nem forte. Era inclusive bem mirradinho. Tinha o cabelo meio cacheado e um bigode bem grande. Como os portugueses estereotipados. Ele era brega. Mas tinha um olhar incrível.
Aceitei o café só para ter um motivo para ele se dirigir a mim novamente.
Ele era o mais calado ali naquele salão.
Enquanto as cabeleireiras, manicures e o cabeludo gay (que devia ser um outro cabeleireiro) conversavam e riam muito, o homem do bigode andava de um lado pro outro do salão, preparando e servindo café ou arrumando a bancada. Era discreto e tinha um olhar sedutor.
Não conseguia acreditar que ele mexia comigo. Estava muito distante do meu tipo de homem, mas o olhar dele me fazia cócegas.
Veio pegar minha xícara quando acabei o café, olhou bem firme nos meus olhos e perguntou se eu queria mais um.
Fiquei com frio na barriga e me senti ridícula por isso.
- Não, obrigada.
Perguntei a Maria, a manicure peruana, se ele era cabeleireiro também.
- Não, ele é o massarrista (massagista com sotaque espanhol).
UAU!!!! Massagista?!!!
Enfim, era bom que eu me apressasse com aquelas unhas para não começar a ter idéias absurdas! Eu logo tinha que estar de volta ao trabalho. E aquilo era ridículo. Ele era mirradinho e usava bigode, afinal de contas!
- Ok, obrigada Maria.
Me dirigi ao caixa para pagar, e o massagista foi me atender.
- São 8 reais.
Dei uma nota de dez. Enquanto ele separava o troco, me perguntou, sem olhar para mim.
- Você gosta de massagem?
Ai massagista, não faça assim...quer que eu perca a linha e comece a gaguejar???
- Sim, gosto.
Ele me deu o troco e abriu um leve sorriso. Bem leve mesmo. Daquele sorriso típico de homem que sabe que é gostoso!!! E um olhar bem blazé, do tipo, você é mais uma cliente que passa por aqui. Nenhum olhar do tipo “quer sair hoje à noite?”. Que nada, ele ainda era difícil!!!
Saí o quanto antes do salão. De unhas vermelhas e uma leve dor nas costas.

Ariadne Catanzaro