Livre_expressao

quinta-feira, abril 12, 2007

Aspirina para a solidão

Ela não estava apaixonada por ninguém. Não sonhava com ninguém. Não tinha um número de telefone fixo para ligar quando queria conversar, tomar um vinho, viajar no feriado ou desejar boa noite.
Ela não sofria por ninguém. Não tinha medo de perder ninguém. Não sentia ciúmes de ninguém. Não tinha nada que fosse tão bom a ponto de criar fantasmas e chorar de medo.
Não estava sentindo nada. Nem vontade de rir e nem de chorar.
Não sentia nada.
Seguia o roteiro do dia-a-dia e voltava cansada. Tomava um banho longo e um copo de whisky quando estava de cabeça cheia, e ia dormir em sua cama grande cheia de almofadas.
Não era ruim. Não era bom. Simplesmente era.
Na sexta uma amiga ligou. Um convite. Uma festa. Umas garrafas de cerveja.
Risadas, encontros, amigos recentes, quase melhores amigos depois da quinta garrafa.
Ele era não muito alto, magro e usava óculos. Tinha o cabelo liso e quase loiro.
Bonito. Não muito inteligente, mas bem simpático. Falava pouco e olhava muito para ela.
Ela se faz bonita, arrumou a postura, sorriu mais discretamente e olhou para ele também.
Puxaram um assunto qualquer que os isolou de todos que estavam na mesa.
Pediam mais cerveja e riam mais alto.
Concordavam em quase tudo, só porque era mais fácil concordar.
Não falaram sobre o tempo, mas também não discutiram os efeitos do superaquecimento global.
Falaram sobre qualquer coisa que pode ser interessante numa mesa de bar.
Ele se ofereceu para leva-la para casa.
Ela aceitou.
Quando entraram no carro se atracaram imediatamente. Beijos, mãos, pernas, cheiros, cabelos, botões, colchetes e o gozo.
Ela riu depois. Ele perguntou por quê. Ela o beijou e pediu para ir para casa.
Não trocaram telefone. Mas foram embora felizes.
No dia seguinte ela dormiu até meio dia. Acordou e fez café.
A cabeça doía, mas não precisava de aspirina.

Ariadne Catanzaro

terça-feira, abril 10, 2007

Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio. O escorpião vinha fazer um pedido:

"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?"

O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralizado e vou afundar."Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos."

Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio.

No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?" E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."