Livre_expressao

domingo, março 30, 2008

Quando percebi que tinha medo

Quando percebi que tinha medo
recuei.
Não tive vontade de gritar ou de mostrar os dentes.
Achei que a vida é mais do que uma ladeira escorregadia.
Achei que eu não ia conseguir.
Prossegui
Com cuidado dobrado pelos carros que vinham cruzando
Rodas prateadas
Buzinas incessantes
E faróis de milha.
Na mira
Muitas coisas que eu não conseguia focar.
Um passa aqui e grita
Outro levanta a mão
E o som de música erudita me acorda.
Há corpos estendidos no chão sujo
E a frieza do outono
Me corrói em culpa
Pela falta de desejo e libido suspenso.
Até achei que fosse possível
Suspirei inúmeras vezes sem que viesses a notar.
Escrevi teu nome mil vezes
Para não desgrudares de mim.
Mãos trêmulas e lábios molhados das lágrimas
Chamavam por ti
E tu já não sabias mais o que fazer
Quantas lágrimas hei de chorar ainda
Sem saber direito do que tenho medo
Absurdas as cócegas
As coceiras
A cegueira e a gagueira.
Um vômito sem ânsia
E uma música sem melodia.
Com o ritmo eu nem me preocupo mais.
Frenética já fui
Hoje danço dormindo
Sem movimentos
E com fantasmas ao redor
Sempre eles.
Do que eu estava falando mesmo?
Esqueci de tocar no assunto
Porque era mais cômodo.
E o móvel acumula perfumes, rendinhas e transparências
Óculos escuros escondem o inchaço
E aspirina melhora a dor.
Minha máscara já grudou na pele
E eu espero que me fortaleça.
Em vão.
Medos são para se enfrentar.
Mesmo que pareça mentira.
Mentira, eu não gosto de contar.
Conto carneirinhos, páginas, passos, metros, comprimidos e miligramas.
Mas mentiras, eu não sei contar.
Provações diárias e sorrisos falsos, que cobrem as lágrimas mais uma vez.
Um rio que pára de fluir, não. Isso não existe.
Não é possível, graças a deus.
Flui, flui. Os quadris voltarão a se movimentar
Sim, como não.
Medos são em vão, pode crer e ter certeza disso.
Mostre-me teu cartaz enfeitado.
Aplaudirei sempre pela admiração que guardo em mim.
Os medos vão evaporar e derreter.
Vão chover na grama fértil e muito mato vai nascer.
Aquele tipo de mato que tem florzinhas lilás com nome de mulher.
Flores pequenas e femininas
Como medos bobos, que teimo e aumentar.