Linha descruzada
Com anseios de não ser reconhecida
resolvi te ligar.
O telefone tocou três vezes antes de você atender.
Tinha uma voz de sono ou de seriedade do outro lado da linha
Respirei antes de responder
Você, com ansiedade, repetiu “alo”
Isso me fez tremer
Gaguejei um “oi”
E você não entendeu.
Não entendeu minha aflição
E minha ânsia de te escutar
Tive então um acesso de tosse
Engasgada na tua pressa
Abafei o telefone com a blusa
E aí foi demais para você
que com arrogância perguntou
“com quem quer falar?”
E já era tão óbvio que mal pude responder
Meus olhos ficaram úmidos
E apesar da tosse ter cessado
Você me perguntou “qual é o seu problema?”
Isso me desmoronou de uma vez por todas
Quieta ainda consegui decifrar tua respiração
Seguida de um confuso tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu....
Ariadne Catanzaro