Livre_expressao

sábado, maio 19, 2007

Não quero


Não quero mais a tua pele
Nem teu beijo
E o que vier junto com ele.

Não quero teu carro novo
Tua casa na praia
Tuas passagens para Bahamas.

Não quero mais tuas vaidades
Tuas verdades
Tuas vantagens.

Não quero tua música
Teu whisky
Teu filet mignon.

Não quero nem pensar em teus braços
Tuas pernas
No calor da tua respiração.

Não quero
Não devo
Não sinto.

Não quero me importar com você
Com tuas ausências
Teu silêncio
E tua solidão.

Não quero tuas histórias
Tuas memórias
Teus monumentos ou documentos.

Não quero querer-te mais
E de tanto não querer querer-te
É melhor que já não me queiras desde já.


Ariadne Catanzaro

Foto: Filipa Mateus

terça-feira, maio 08, 2007

Governo recorre contra liberação de horário na TV


O Ministério da Justiça e a Advocacia Geral da União entregaram na segunda-feira (7) recurso ao Superior Tribunal de Justiça para tentar derrubar a liminar que desobrigou as TVs a exibir programas em horários estipulados pelo governo.


O recurso foi entregue ao ministro João Otávio de Noronha, que concedeu a liminar às TVs há 20 dias. Desde então, mesmo a programação classificada como imprópria a crianças e adolescentes fica autorizada a ir ao ar em horário livre (antes das 20h). As redes podem exibir todo tipo de programação, a qualquer hora.


A vitória da Abert se deu às vésperas do prazo máximo para que as TVs passem a cumprir as novas regras de classificação de programas, elaboradas pelo Ministério da Justiça. A intenção das TVs foi anular o efeito da portaria de classificação de programas publicada pelo Ministério da Justiça (MJ) em fevereiro.


A portaria 264 entra em vigor no dia 13 e determina horários para programas inadequados a crianças e adolescentes (após as 20h para maiores de 12 anos, 21h para 14, 22h para 16 e 23h para 18).


A portaria também exige que as TVs respeitem os diferentes fusos horários do país. Diferentemente do que ocorre hoje, a novela classificada para 21h, por exemplo, não pode ir ao ar às 19h no Acre (18h no horário de verão).


Críticas


A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de desobrigar as redes de televisão a exibir a programação em horário determinados pelo governo foi duramente criticada por entidades ligadas aos direitos da criança e do adolescente no mês passado.


José Elias Romão, diretor do departamento de classificação da MJ, afirmou que, sem a obrigatoriedade dos horários, as redes de TV ficam sem controle, e a infância, desprotegida.


Para o sociólogo e professor de comunicação da USP Laurindo Lalo Leal Filho, a movimentação das redes de TV para barrar classificação indicativa na TV aberta é "uma demonstração pública do atraso cultural do país".


A Comissão de Direitos Humanos e Minorias também soltou nota contrária ao mandado do STJ, assinada pelo seu presidente, o deputado Luiz Couto (PT-PB). Para a comissão, a decisão dá às TVs "o privilégio de estar acima das normas e princípios constitucionais que garantem a proteção da criança e do adolescente."


Já Flávio Cavalcanti Jr., diretor-geral da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), defendeu os radiodifusores. Ele disse que "as TVs continuarão a fazer o que sempre fizeram", com critérios próprios para determinar os horários de exibição, e que comunicarão a faixa etária dos programas "para que os pais decidam o que o filho deve ver".


Folha on line, 08/05/07, LAURA MATTOS

Caricato, desastroso e vazio


Nina, o primeiro longa do diretor Heitor Dhalia, tenta ser uma adaptação de Crime e Castigo, de Dostoievski. Porém, o resultado é um filme fraco, cheio de elementos inúteis e um grande elenco desperdiçado.

A protagonista Nina, interpretada por Guta Stresser é uma personagem mal construída, antipática, com atitudes pré-adolescentes. Talvez o intuito do diretor era colocar Nina como vítima das dificuldades da vida na cidade grande. Uma jovem que mora distante da família e aluga um quarto na casa da velha Eulália; porém, a jovem não tem maturidade para manter um emprego de garçonete em uma lanchonete. Pára de trabalhar, não procura outro emprego, sofre por não ter dinheiro para nada e se sente injustiçada pela velha Eulália (Myriam Muniz), que a proíbe de comer sua comida, usar seu sabonete ou coisas do tipo enquanto não pagar o aluguel! Cá entre nós, mais que justo!

De qualquer forma, a vilã Dona Eulália também é uma personagem mal construída, caricata, quase tão real quanto as bruxas madrastas de contos de fada! Crueldade inverossímil, não convence o espectador e não ajuda a causar pena de Nina.

Marçal Aquino (autor de excelentes roteiros como Os Matadores e O Invasor) é co-roteirista, junto do diretor Heitor Dhalia. Porém, neste trabalho, o roteiro deixou a desejar. A história não se desenvolve, nada acontece, Nina não se mexe para a vida ser melhor, e o diretor insiste em nos forçar a ter pena dela, pobre coitada! O maior conflito da trama parece ser a relação entre Nina e Eulália, do ódio que uma sente da outra e a situação de “quem pode sacanear mais” que se cria entre as duas.

Guta Stresser, Myriam Muniz, Milhem Cortaz, Wagner Moura, Selton Mello, Renata Sorrah, Lázaro Ramos, Matheus Naschtergaele, Ailton Graça entre outros, compõem o ma-ra-vi-lho-so elenco que Dhalia criou. Alguns com pequenas participações, mas de qualquer forma, sempre muito bem em seus papéis. O que acaba dando mais raiva ainda pelo filme não ser bom. Inevitável pensar “O que estes atores estão fazendo aí???”.

Mas como nada pode ser tão maniqueísta quanto a velha Dona Eulália, o filme não tem apenas pontos negativos. Ponto pro elenco citado acima, para a estética criada pelos diretores de arte Akira Goto e Guta Carvalho, incluindo o figurino e a maquiagem. O filme é todo caricato, porém a arte representa muito bem esta caricatura. Personagens que não existem que vivem em lugares que não existem. Os cenários se encaixam perfeitamente no clima que Dhalia optou por criar. Materiais utilizados no cenário foram adquiridos em demolições, para transmitir uma sensação decadente.

A fotografia também é muito boa, especificamente na cena de sexo com o cego, onde contrastes de luz e sombra enriquecem a cena, ao som de muito bem escolhida trilha sonora.

Mas o que peca mesmo é o roteiro. Dhalia quis colocar elementos de Crime e Castigo no filme, porém estes ficam perdidos e não fazem diferença alguma no roteiro, como o assassinato do cavalo num sonho ou numa alucinação de Nina. Outro fator que não faz a mínima diferença é o fato dela ser desenhista. Ela poderia ser qualquer outra coisa, que não mudaria em nada. Continuaria sendo uma personagem preguiçosa e deprimida pela vida difícil em São Paulo.

Se Dhalia queria mesmo falar do drama de quem vem morar em São Paulo, deveria ter feito um filme sobre um nordestino que chega com oito filhos, depois de dias de viagem num pau-de-arara, enfrenta preconceito e discriminação, demora a conseguir um emprego com o tão famoso “salário de fome” e nunca mais consegue juntar dinheiro para voltar para sua terra. Isso sim seria um drama danado, verossímil e real.

Já Nina não. É inverossímil de qualquer forma. Seus amigos, suas baladas, suas pirações, e seu desfecho. Tudo ruim. Um filme que dá raiva da protagonista e nojo do vilão.
Desliguei a TV com a sensação de tempo perdido. Uma pena.



Ariadne Catanzaro