Livre_expressao

quinta-feira, junho 28, 2007

Falas de civilização

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!
Alberto Caeiro

segunda-feira, junho 18, 2007

Enterro

Não quero choro nem vela.
Fique você com a perna dela!

domingo, junho 10, 2007

Fumar é pecado


Eu sou daquelas fumantes preocupadas em não incomodar, sabe?

Daquelas que fumam no cantinho, que saem de perto dos não-fumantes, que não exigem lugar de fumantes na pizzaria quando a maioria não fuma, que fumam na varanda da casa de não fumantes e ainda lavam o cinzeiro depois.

Tento realmente não incomodar com meu vício.

O vício é meu, a vida é minha, o problema é meu e se houver um câncer no futuro, ainda assim, o problema é meu.

Nada me dá mais ódio na vida do que sair para fumar num cantinho e alguém vir atrás “Ah, não faça isso, você é tão bonita” (se fosse feia podia?) “Sabia que isso faz mal? Dá câncer, estraga os dentes, isso é um veneno”.

Dá vontade de falar “Vai se foder, você e seus conselhos que ninguém pediu”, mas na maioria das vezes eu sorrio muito sem graça e falo “É, eu sei que faz mal”. Daí, o filho da puta, não contente em acabar com meu momento de prazer e satisfação do vício, continua “Então, larga essa porcaria”.

Isso me dá ódio.

Não pergunto para ninguém “Você acha que cigarro faz mal? Você acha que eu faço bem em fumar? Sabe se cigarro dá câncer?” Não, eu não saio por aí perguntando, e mesmo assim, insistem em me responder.
Não acho bonito fumar. Não gosto de ter cheiro de cigarro na roupa e no cabelo. Não aconselho ninguém a começar. Mas, porra, ainda assim, tudo isso é problema meu.

Uma vez, logo cedo, indo trabalhar, mal humoradíssima, sentei numa praça para fumar um cigarro antes de entrar no trabalho. Um homem veio sorrindo na minha direção. Olhava fixamente meu cigarro. Entendi. Ele queria me pedir, educadamente, um cigarro. Tudo bem, não nego cigarro para ninguém. O cara sentou ao meu lado. Já me deu ódio. “Posso falar com você?” Ai, saco, se ele só quisesse um cigarro era mais fácil. “Falar o que?” “É sobre Jesus. Ele pode te ajudar a largar esse vício”. QUEM FALOU QUE EU QUERO LARGAR ESSE VÍCIO??? TE PERGUNTEI ALGUMA COISA???

Logo cedo, ninguém merece. Falei “Não, obrigada”. Foi o máximo de mal-criada que eu consegui ser.

Outra vez, cheguei numa pizzaria com um grupo de amigos não-fumantes, mas que não ligavam que eu fumava. Disseram “Pede mesa para fumantes.” Bom, se estava tudo bem para eles, pedi para a garçonete “Tem área de fumantes?” “Sim”, e nos encaminhou para uma área um pouco mais ventilada. Comemos uma pizza divina, pedimos uns chopps e ficamos de bate papo na mesa. Obviamente, o que seria de mim se não acendesse um cigarro nessa hora? (pobre viciada, você deve estar pensando). Assim foi. Acendi meu cigarro tranquilamente, já que não ia incomodar ninguém. Na terceira tragada ouço uma gritaria grosseira. “Ô mocinha, o cigarrinho está atrapalhando!” Ai que vergonha, que ódio, que merda! O idiota da mesa ao lado escolheu a área de fumantes e me recriminou por estar fumando! Sabe por que? Porque de modo geral, os não-fumantes odeiam os fumantes. E fazem questão de vir perto dos nossos cigarros e reclamar da nossa simples existência. Claro, envergonhada, apaguei a porra do meu cigarro-digestivo.

Três são os cigarros mais gostosos do dia: O primeiro, logo cedo, o depois do almoço que acompanha um café quente, e um no ponto de ônibus, na volta do trabalho. Todos os outros são bons também, mas desses três eu não abro mão. Você, não-fumante, já deve ter ouvido falar desses três cigarros.

Eu sei, nós, os fumantes, somos previsíveis. Eu saio de conversas interessantíssimas, para fumar no lado de fora, perco ônibus porque parei no caminho para acender um cigarro, fumo de pé, em lugares desagradabilíssimos, por falta de uma terraço com uma bela vista e uma xícara de café, chego atrasada na aula porque antes tenho que perder cinco minutos fumando um cigarro. Sei que tudo isso pode parecer péssimo aos olhos não-fumantes, mas ainda assim, o problema é meu.

E quanto a Jesus? Não, não o procurei para que ele me ajudasse a largar esse vício. Deus me livre, vai que eu tomo um castigo, fumar é pecado, e, quanto aos meus pecados, ninguém tem nada com isso!


Ariadne Fumante Catanzaro

segunda-feira, junho 04, 2007

Os gatos

Eu gosto de gatos
Porque os gatos
não gostam dos ratos.