Livre_expressao

sábado, maio 31, 2008

Tic-tatear para não doer

Comecei a escutar o tempo passar
Como a sensação de andar de carro com a janela aberta
O tempo soprava no meu ouvido
Ruía
Gelava meu rosto.
O tempo passava rápido demais
Para que eu conseguisse agarra-lo
Queria prende-lo
Faze-lo parar
Mas não tentei
Já tinha maturidade o bastante para saber que ele não ia parar.
Eu gritava por dentro: Parem os relógios, parem os relógios.
Pare o vento de soprar
Parem as ondas de quebrar
Parem todos os furacões.
Uma brusca ventania abriu a porta do meu peito
Espatifou-se o meu coração no chão
O tic tac do relógio só parecia repetir: ele me traiu. ele me traiu. ele me traiu.
Eu tentei agarrar o tempo e faze-lo parar.
Parar de tic-tactear na minha orelha
Parar o tempo para ter tempo de pensar: e agora o que vou fazer?
Posso fingir que não sei. Posso acreditar em qualquer coisa e manter o relógio tic-tateando.
Pensei em voltar atrás, em recomeçar o dia em que o conheci.
E se pudesse optar, não teria conhecido.
Mas não consegui voltar o tempo.
Então tentei acelera-lo. Para daqui uns dois anos, onde não saberei mais onde ele está
Onde ele não saberá de mim
Onde eu não vou ter que chorar as primeiras lágrimas desta dor.
Usei toda a minha réstia de força para fazer o tempo parar.
Quando abri os olhos, vi que os pássaros ainda cantavam.
Não pude ouvir as ondas do mar, mas sabia que elas ainda quebravam.
O vento havia parado de soprar o tempo no meu ouvido gelado
Mas aqui dentro, meu coração, não tinha mais volta, estava estraçalhado em mil pedaços. Os pedaços se espalharam por muitas lembranças, e não consegui recupera-los para refaze-lo.
Reconstruir um coração... ah isso leva tempo. Nem Deus conseguiria conserta-lo... nem em sete dias. Nem em sete anos.
Essa tarefa era mesmo só minha.
Eu sabia, sim já sabia, que o tempo continuaria a passar, e este sim, talvez pudesse me curar.
Parei de tentar fazer o tempo parar. Queria agora que ele reencontrasse os pedacinhos de mim, os destroços do meu amor, e os juntasse, como um quebra cabeça infinito.
Tive a certeza de que um dia, depois do tempo passar bastante, meu coração estaria intacto novamente.
Então rezei, rezei com veemência para que o tempo voltasse a soprar no meu ouvido, me causando aquela tontura de dor, dor que eu sabia que um dia iria passar com o tempo. Talvez não passasse tão correndo no meu ouvido. Mas um dia passava. E eu não precisava esperar. Pois de nada adiantava.
Eu sabia que não havia mais nada que eu pudesse fazer. Entreguei os pontos e fui chorar as primeiras lágrimas desta dor.


Ariadne Catanzaro